terça-feira, 5 de maio de 2009

A profissão mais antiga do mundo


É claro que você sabe qual é a profissão mais antiga do mundo. E certamente pensa nela com muito preconceito ou tabu. Quero deixar claro que não estou aqui pra defendê-las e nem levantar bandeira nenhuma, mas sim pra fazer você pensar mais um pouco na complexidade do tema.

Alguns dizem que ser prostituta é ganhar dinheiro fácil. Agora pense na fileira de mulheres que ficam nas esquinas que você vê quando retorna das baladas. Pense num carro que para, na expectativa de encontrar um “não sei o que lá” de criatura que usa e abusa do corpo delas. Pense então naqueles fedorentos que gostam de bater, por exemplo. Pense nos riscos, e na “recompensa” que não compensa. Mas é claro que sua resposta vai ser: “é escolha delas!”. Antes de me dizer, para e pensa de novo, pensa em meninas que foram criadas em ambientes nojentos de promiscuidade e miséria. O que me diz? O que é escolha? Elas têm escolha?

Vou te contar do caso da Baby*, 16 anos, prostitui-se desde os 11. Nasceu e foi “criada” num prostíbulo, onde claro, sua mãe era prostituta e morreu de uma doença sexualmente transmissível, que nem ela sabe o nome, quando Baby tinha 10 anos. Baby via a entrada e saída de clientes no quarto onde elas viviam. Num lugar miserável, feio e muito ruim, como ela mesma me disse. Era como um cortiço cheio de quartinhos ocupados pelas mais diferentes prostitutas. O dono era um cara sem nenhum escrúpulo, que pegava praticamente todo o dinheiro delas em troca daquela miserável moradia. E ainda achava que tinha o direito de usá-las quando bem entendia. Foi ele que tirou a virgindade da Baby, quando ela tinha apenas 9 anos, e o pior, com o consentimento da sua própria mãe. Depois da morte da genitora, Baby fugiu prum lugar sem rumo. Enfrentou fome e frio e todos os tipos de humilhações que uma garotinha de rua passa. Até conhecer um anjo de guarda, como ela chama, na qual é grata até hoje. Uma mulher jovem, também prostituta, viciada em drogas, mas que a acolheu como irmã. Daí começou a se prostituir pra ter como se virar. Mas não é dinheiro que valha a pena. É só pela sobrevivência. Afinal, do jeito que ela se encontra, e no meio em que ela vive, ninguém paga mais que R$ 30,00 reais por uma noite de sexo. Baby quando é perguntada pela sua expectativa de futuro, não consegue me responder com palavras. Sua única resposta é uma lágrima sofrida que desce no seu rosto.

Quando se tenta falar de prostituição muitas coisas são misturadas. Na verdade, os tipos se confundem. Não imaginamos o que há por trás desse comércio de mulheres. É só visitá-las, como eu fiz despretensiosamente para um trabalho imaginando encontrar outro tipo de coisa... Não, elas não são alegres e tão desinibidas como pensamos. E o tipo que tou falando agora, é o mesmo tipo das que você encontra nas esquinas. Aquelas muitas vezes analfabetas ou sem estudo algum. Aquelas tão maltratadas pelos homens e pela vida, que aparentemente nem esboçam mais nenhuma emoção. Aparentemente... Elas sonham, elas sofrem, elas morrem, e você não vê. Só as enxerga de meia calça e mini saia acenando pro seu carro.

Quando falei de tipos eu quis destacar exatamente a diferença entre prostitutas e “prostitutas”. As putas de luxo, como são chamadas. Essas são bem diferentes da que citei acima.


Dona* tem 22 anos e está no sexto período da faculdade de Administração. Linda, bem cuidada, carinha de boneca de porcelana. Os homens acham ela linda e vivem atrás, mas ela esnoba como uma moça comportada a espera de um príncipe. As mulheres a acham nojenta de tão linda, mas são agradáveis com ela. Alguns mais perspicazes conseguem ver um certo mistério, mas não imaginam que de noite, a santa vira puta! Ela cobra R$ 700,00 reais por 3 horas de “serviço”. Ela tem carro próprio e ela vai ao encontro do cliente. Ela tem um funcionário que a acompanha, Serjão*, um negrão de 3 metros de altura e 3 de largura, pra qualquer eventualidade, é segurança pessoal. Dona passeia com as melhores grifes e freqüenta os melhores lugares. Ela veio de uma família tradicional, não rica, mas cresceu com tudo nas mãos. Seus pais foram amorosos, os irmãos foram companheiros e ela não esquece disso, volta e meia os presenteia com coisas caríssimas. O pai pensa que ela trabalha com consultoria, e o resto da família prefere fechar os olhos. Mas ela é respeitada quando passa na rua, e com certeza, quando você cruza com ela, imagina que é a mulher mais decente que já viu na vida. Ela não sofre preconceitos, ela faz o que quer...

Dona teve escolha, Baby não.


Prostituição é um problema quando falamos da Baby. Prostituição é uma escolha quando falamos da Dona. É irritante saber que a prostituição problema é encarada de forma tão camuflada e desrespeitosa pelos governantes. Estes muitos que são clientes da prostituta por escolha, como a Dona. Nós podemos mudar pelo menos a consciência... Olhar com outros olhos as que vimos na rua, as problema. O que faremos com isso? Se o olhar vier acompanhado de uma oração e respeito, ajuda.

*Nomes fictícios para conservar a identidade dos entrevistados

2 comentários:

  1. Sabe, sua matéria é digna de premiações e tudo mais...

    Sabe, nunca pensei no pesadelo real que é a prostituição, só quando uma amiga minha disse certa vez que se prostituia para poder cuidar dos dois filhos dela, algo grave, porém, acho que é algo digno, uma vez, que a consciência que ela passou para mim era de que ela gostava de fazer aquilo. Que pra ela ia além de trabalho. Quem sou eu para poder ir contra?! Nunca serei, cada um sabe da sua necessidade e das suas condições.

    Mas acho lamentável não haverem outras formas, por outras não serem criadas para assitencializar essas pessoas, faltam verdadeiros governantes ao governo para poder enfim terminar ou dimunuir essa profissão que cada dia mais conta com faixa etária cada vez menor nas ruas.

    No todo?! Sua coluna passa bem as dificuldades e as facilidades desse mundo. Casos comoventes e inteligentes. Sabe?! Vc foi uma achado em minha vida...
    `
    Parabéns, amor!!

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  2. Muito bom o texto Lore!
    Retratou perfeitamente 2 realidades completamente opostas e reais da mesma "profissão".
    As pessoas tem mania de sempre dizer que tudo é culpa de "escolhas", quando as vezes a história eh bem diferente!

    Parabens, sua coluna tá excelente! =)

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